segunda-feira, 22 de julho de 2019

Mudou a FLIP ou mudei eu?

FLIP 2019
Desde 2011 tenho frequentado a  FLIP- Festa literária Internacional de Paraty, no Rio de Janeiro, cidade considerada Patrimônio Mundial da Humanidade desde o dia 5 de julho deste ano, por suas riquezas naturais e culturais.



 Naquela época fiquei empolgada com minha entrevista com a grande  atriz Maria Della Costa para a Rádio USP, no Momento Grandes Mulheres. Ela me recebeu com toda a simpatia e cordialidade em sua casa e me encantou com sua história de vida e carreira artística.



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Neste ano a FLIP  teve com foco a luta e a resistência.
Um modelo de resistência observada, depois de muitos anos, nas ruas da bela cidade colonial, descoberta em 1667, são os índios da tribo Guarani vendendo cestos de palha coloridos, colares de pena e outros objetos criados por eles. Assistimos nas ruas à crianças e jovens timidamente dançando e cantando, na tentativa de preservar sua cultura e seus rituais.
Encontrados em 1972, quando a Estrada Rio-Santos fora construída, os índios desta região vivem em terras demarcadas pela FUNAI, cuidam de suas roças de milho, feijão e mandioca, e recebem o Bolsa- família, porém vivem sem saneamento básico em suas aldeias.


Creio que outra forma de  resistência foi o destaque da FLIPEI, Festa Literária Pirata das Editoras Independentes, com a vinda do jornalista Glen Greenwald de barco, sobre o Rio Perequê-Açu, cujo nome significa na linguagem tupi- Entrada de Peixe Grande. Ele foi recebido com aplausos por muitos e protestos por alguns, foi atacado com rojões direcionados a sua embarcação, hino nacional em máximo volume e palavras de ordem, enquanto tentava proferir  "Os desafios do Jornalismo em tempos de Lava Jato".


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Chamou-me a atenção também o romance que tem como cenário a Guerra do Paraguai, para mim outra forma de resistência e luta, narrado em primeira pessoa por uma grande personagem feminina. Cunhataí, foi escrito por Maria Filomena Bouissou Lepecki, a médica oftalmologista, que recebeu três prêmios com seu romance histórico e nos deu uma verdadeira aula sobre o assunto durante sua exposição.




Um outro momento que considero importante  foi quando o  líder indígena Ailton Krenakí pintou de urucum o rosto do diretor teatral José Celso Martinez, vestido de  poncho verde e amarelo. Em seguida o diretor, que interpretou Antonio Conselheiro no teatro, o grande líder da Revolução de Canudos, no romance Os Sertões, falou de nosso momento de resistência. Depois citou a frase do manifesto antropofágico - Tupi or not tupi, recebeu e abriu a bandeira de Lula Livre e ainda fez questão de encerrar o evento, brindando com vinho.
Fiquei imaginando que o brinde seria para o "nosso mundo", pois sempre tivemos a sensação de que a FLIP era talvez "o mundo dos iguais", como no conto " A terra dos meninos pelados", de Graciliano Ramos...talvez  brindemos agora para nossa esperança de um mundo melhor!

Mathilde Missioneiro/Folhapress


Zé Celso Martinez com o rosto pintado de urucum em mesa da Flip 2019

Sob curadoria da jornalista Fernanda Diamant, a 17ª Festa Literária Internacional de Paraty aconteceu entre 10 e 14 de julho de 2019 e teve como homenageado o escritor Euclides da Cunha, do clássico Os Sertões",obra dividida em A terra, o Homem e A luta

O escritor Euclides da Cunha — Foto: Reprodução


Publicado em 1902, Euclides da Cunha fez registros importantes, como correspondente do Jornal O Estado de São Paulo, sobre o conflito que envolveu a comunidade e o exército brasileiro, no interior da Bahia.






No caminhar vagaroso por causa das pedras nas ruas, atentos aos belos casarões construídos no meio da mata Atlântica, podemos percorrer os 33 quarteirões, que segundo registros possuem traços maçônicos na arquitetura.


De acordo com minha pesquisa histórica, do Porto de Paraty embarcavam ouro e pedras preciosas para Portugal.Descobri que a cidade chegou a ser a capital do Brasil, em 1930 e desde 2003 recebe a Festa literária.

Recebemos na sala de imprensa um encarte com explicações de que geograficamente a FLIP se divide em auditório principal da Matriz (onde se paga ingresso para assistir aos debates)

Resultado de imagem para foto de crianças indigenas na flip de 2019 E o auditório da Praça, com transmissão gratuita pelo telão



 Além disso  a Praça fica aberta para exposições e programas educativos e possui em uma das suas esquinas a Livraria Travessia, oficial desta grande festa.


A FLIP se distribui ainda com a Casa da Cultura de Paraty, que realiza conversas e apresentações de grupos musicais.

Sempre lotada e com filas enormes,a Casa Folha tornou-se também uma das atrações preferidas Este  ano, teve as presenças de atriz Bruna Lombardi , o cantor Ney Matrogrosso, o professor e  compositor José Miguel Visnick e o jornalista e biografo Rui Castro.







 Um lugarzinho aconchegante, que nos faz sentir como se estivéssemos em nosso quintal  é a  Casa da Porta Amarela. Além dos quitutes deliciosos e diversos livros expostos,a Casa faz um importante trabalho com autores independentes, convidados para  discussões sobre temas ambientais, e outros assuntos.



 Outra parceria fundamental é o SESC, que além de valorizar seus autores premiados, trouxe uma série de atividades, entre exposições, oficinas, lançamentos e cafés literários. Estivemos em um animado coquetel  na sexta feira à noite!  
 A cantora Zélia Duncan foi a convidada para um bate papo sobre Música Brasileira.



No auditório da FLIP a escritora portuguesa Brada Kilomba foi uma das representantes das questões raciais e femininas




Justamente no cenário da terra em que já esteve a atriz Sônia Braga gravando o filme Gabriela, da obra de Jorge Amado, com direção de Bruno Barreto, em 1983.


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A Pousada dos Autores teve como destaque a Bike Book, uma alternativa de empreendedorismo, através de livraria itinerante. "Como Inovar nos Tempos de Hoje" foi o assunto da palestra com Elisângela Alves.






 Está aí um novo conceito de se adquirir livros de maneira sustentável!



Sobre as águas calmas de Paraty seguem as embarcações, no local onde estiveram  41 convidados neste ano, com 22 mulheres.





Os pontos de referência na cidade Paratiense também fizeram parte desta grande Festa, que são as Igrejas de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, na Rua do Comércio
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E a igreja de Santa Rita, fundada em 1722, cartão postal da cidade,  que estava toda enfeitada para receber seus fiéis.

Há ainda a antiga cadeia da cidade, prédio colonial do Século XVIII que se transformou em Biblioteca e Instituto Histórico
Com um espaço charmoso, a
 Livraria das Marés é a nossa sugestão para o cafezinho.



Conversei com a professora  Regiane Mendes, que frequenta a FLIP há seis anos 
Ela acha que a qualidade  das discussões tem melhorado e as palestras estão com temas atuais. Citou os barcos da FLIPEI e considera fundamental o apoio dos organizadores pra manter a autonomia nos debates, num momento tão difícil como este.




A saudosa atriz Maria Della Costa já não está entre os moradores ilustres de Paraty e sua Pousada Coxixo recebe hoje o nome de Pousada Literária.

Uma pena não termos ali no local um museu com suas lembranças e fotos!
 Mesmo assim permanece a saudade de sua beleza, talento e generosidade!



 Lembrei- me ainda da foto em meu blog do Grandes Mulheres na FLIP de 2014

.
 Tantos anos se passaram...



Com olhos marejados e um nó na garganta,eu observava as tribos indígenas e tinha vontade de  me desculpar ...sentia um incômodo! Talvez porque as perspectivas hoje não sejam tão otimistas...talvez porque os tempos mudaram...

"A hora do silêncio no momento em que se questionava durante um dos debates sobre o que se espera do futuro" narrada pelo jornalista Antonio Prata em seu artigo na Folha de São Paulo, me fez refletir... 

E eu me pergunto Mudou a FLIP ou mudei eu?















Annete Moreira para o Cult Tur


quarta-feira, 10 de julho de 2019

Sapecado, calma e poesia!

 Ao longe, perto de São Pedro do Turvo e Ribeirão do Sul, no caminho para Ourinhos, região de Marília, estado de São Paulo, encontramos o bairro do Sapecado.




Com sua tradicional igrejinha, palco de muitas histórias e encontros amorosos!



E terras férteis com campos verdes! O sertão que faz a alma da gente chorar  de saudade!


Tenho uma história afetiva ligada a estas terras, por causa do meu avô materno José Cândido. E é sobre este lugar cheio de  belas lembranças que vou falar agora. Conhecer o passado nos ajuda a entender melhor a nossa realidade atual. Sim, porque nossa terra faz bater nosso coração de forma diferente... o cheiro, o olhar, tudo muda... a memória busca momentos de encanto, envolvida em recordações- com o rio, as árvores, a poeira e a lama da terra vermelha... o pegar goiaba no pé e gritar quando vinha com bicho dentro (rsrsrs), o lambuzar-se com as mangas, assustar se com o escuro, e alegrar-se com as brincadeiras de infância. Mas nada comparado a lembrança das pessoas, do falar mansinho, do andar tranquilo, do sorriso cativante e do abraço. Sim, pois nada substitui a simplicidade e o bom coração!



Ao pesquisar sobre o local encontrei histórias de pessoas que vieram pelas bandas de lá por volta de 1851 da cidade mineira de Pouso Alegre
Homens que desbravaram estas terras, conhecidas por sua fertilidade, enfrentando de maneira apaziguada os índios Xavantes que ali viviam.

" Terra boa,com abundancia de água e de madeiras de lei"

Encontrei também escritos de 1926 sobre as terras  de José Antonio Vieira e outros...meu avô plantava café, e me disseram que gostava de ouvir rádio...e era generoso!



Para conhecer melhor a vida de hoje conversei com o Beto, da propriedade Rural Irmãos Cândido. Eles vivem ali por toda a vida, no meio de casas e árvores, plantações e animais de estimação.Formado em Geografia, Beto chegou a dar aulas mas sua paixão mesmo é a terra.
 Entre as famílias e seus plantios, constroem suas vidas e sustentam seus filhos e netos.



Viver da terra! Um sonho que realizam no cotidiano de maneira natural, com a mansidão que precisamos ter e que só conquistamos com a sabedoria!

Hoje eles plantam sob as grandes estufas para ter mais segurança. Na rotina do dia-a-dia abastecem a região e depois fornecem para o Ceasa na capital. Para o abastecimento, cultivam grandes e bonitos pimentões, além de pepinos e tomates de qualidade.

Rinaldo, publicitário e ávido leitor, acompanhou toda a explicação do processo do trabalho. Curioso, sempre gostou das lembranças daquele lugar. Ficou inconformado quando soube que teriam que derrubar a casa antiga!



 Enquanto eu observava o brilho do sol nos despertando para um novo dia!



Junto com as galinhas e seus pintinhos que inciavam a manhã, apressadas para fazermos despertar para a vida!



A velha casa da família, que serviu como abrigo durante tantos anos deixou saudades de um bom tempo que ficou! 


E a nova já equipada com TVs e fogões a gás, além das novidades tecnológicas dos celulares e da Internet


O cavalo de estimação da família continuava impassível no pasto que o entretinha

Assim como o novo caminho para a boa safra através das Estufas, que servem para proteger do sol e da chuva.



Hoje as novas gerações cuidam do plantio e manejo da terra. Ainda permanecem a calmaria, a boa prosa,os festejos, o cheiro da comida saindo quentinha... e o sentimento bom de quem vive no sítio.
 A filha do Beto, a Natany, estuda Agro Negócios, e está bem empolgada, com idéias e planos para o futuro.  Ela percebeu esta necessidade, porque  o mundo globalizado e tecnológico exige outros preparos. E assim a vida segue.


O filho da Natany já está conectado com seus games 




Enquanto o pequeno da cidade fica fascinado com o mundo da roça



E a família se reúne para encontros de alegria e afetos








Fomos embora com o coração apertado, deixando um pedacinho de nós! 
Afinal o que nos moveu ali foi o amor, que é o que realmente importa!  




E assim retornamos, contemplando a natureza e refletindo sobre o significado da  vida. Significado este que só o poeta pode nos traduzir em versos:

" Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, é ter por fim da caminhada um objetivo agradável
Eis, de todas as maneiras de viver,
Aquela que mais me agrada"

Jean Jacques Rousseau


Quero agradecer pelos ensinamentos e toda a atenção que sempre nos receberam

Annete Moreira para o Cult Tur

























sábado, 6 de julho de 2019

Asilo, convidado especial do Santos Film Fest

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

Carlos Drummond de Andrade








Sob o comando do escritor e crítico de cinema André Azenha, ocorreu neste dia 3 de julho, a cerimônia de encerramento e entrega de prêmios do 4º Santos Film Fest,Festival Internacional de Filmes que recebeu mais de 70 inscritos entre nacionais e internacionais, no Cine Roxy Gonzaga,em Santos, que está completando 85 anos.

O objetivo desta edição foi refletir sobre as relações humanas, promover o amor, a amizade e os bons sentimentos.E não por acaso Asilo, a última curva da vida foi o convidado especial  recebendo justa homenagem. 

 Um filme de Mari Cardoso e João Marinho. com temática impactante,que retrata o abandono, o desprezo, a indiferença com o ser humano. É importante para reflexão da realidade de muitas famílias brasileiras.





No elenco os protagonistas que nos emocionaram Maria Dudah Senne e Teobaldo Teo, atores experientes que aceitaram fazer o filme para alertarem a sociedade a repensar a terceira idade.




 " É um prazer falar deste tema"  o diretor João Marinho está no jornalismo há mais de 40 anos, este é seu primeiro filme. E segundo ele é o primeiro a falar diretamente deste assunto no mundo.   

Ele contou que  foi convidado também para mostrar sua obra em países como China, TV estatal
e Mostras da Itália, França e Portugal.


" Mostra o abandono dos idosos pelas famílias nos asilos" 
Um trabalho, que segundo Mari Cardoso, atriz  e também sua idealizadora, começou a ser feito há 4 anos, envolveu mais de 300 pessoas, 7 meses de gravação e um ano no para que ficasse pronto, um filme independente, sem recursos e que as pessoas acreditaram.









Estiveram presentes no evento vários participantes do filme entre eles,o ator Igor Bartchewsky, Juju Teobaldo Teo, a atriz Rosa Simão e outros



Foi uma grande festa do cinema com a performance animada dos garotos com os figurinos do famoso personagem do filme com lançamento nacional Homem Aranha-longe de casa  


E para encerrar a noite, o grito de Asilo no Santos Film Fest


Quero agradecer aos produtores e diretores Mari Cardoso e João Marinho pela oportunidade de participar deste filme importante e delicado!
Parabéns pelo belo trabalho! Sucesso sempre!
Annete Moreira para o Cult Tur